O período das tarefas terrenas de Cristo chegava ao fim. Nas parábolas anteriores, Cristo ensinou-nos as condições de propagação do Reino de Deus entre os homens. Em suas últimas seis parábolas, Ele fala-nos também de seu Reino Bem-Aventurado, mas ressalta a idéia da responsabilidade do homem perante Deus, quando ele menospreza a possibilidade da salvação ou, ainda pior, quando ele rejeita diretamente a misericórdia de Deus. Estas parábolas foram contadas em Jerusalém, na última semana da vida terrena do Salvador. Nestas últimas parábolas desvenda-se o ensinamento sobre a verdade (justiça) de Deus, sobre a segunda vinda de Cristo, e sobre o juízo. Dentre estas parábolas estão: a Parábola dos Lavradores Maus, da Figueira Estéril, das Bodas, dos Trabalhadores e das Diversas Horas de Trabalho, dos Servos Aguardando o Senhor, e das Dez Virgens.
a) Parábolas Sobre a Responsabilidade do Homem.
Cristo, o entendedor do coração humano, sabe quais os povos e pessoas isoladas que possuem maiores dotes espirituais, direcionando a eles a sua bem-aventurança de maneira mais intensa do que a outros. Na antiguidade, o povo judeu era o que mais se distinguia por suas exclusivas qualidades espirituais; atualmente é o povo grego e o russo. A eles Deus manifesta grande dedicação, ofertando-lhes uma abundância de dádivas de bem-aventurança. Podemos julgar esta questão pela grande quantidade de devotos de Deus que resplandeceram dentre estes povos. Entretanto, esta abundância de dádivas de bem-aventurança implica numa exclusiva responsabilidade de cada um destes povos como um todo e sobre cada pessoa, individualmente. Deus espera que estas pessoas tenham força de vontade e inclinação ao aperfeiçoamento moral, ou seja, "aquele ao qual muito é dado, daquele muito se espera." Logicamente, nem todos tem esta inclinação ao aperfeiçoamento moral. Contrariamente, algumas pessoas dão as costas a Deus de maneira consciente. Portanto, acontece que esta abundância de bem-aventurança provoca uma espécie de polarização dentre os representantes do povo escolhido: alguns alcançam grandes pináculos espirituais, chegando até à santidade, já outros, pelo contrário, renegam a Deus, brutalizam-se, chegando até a combater Deus.
Parábola dos Lavradores Maus.
Nesta parábola, Deus conta-nos sobre a oposição consciente a Deus por parte dos guias espirituais do povo judeu — os sacerdotes, livreiros e fariseus, personificados como os maus lavradores.
"Certo homem plantou uma vinha, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu para fora da terra por muito tempo. E no próprio tempo mandou um servo aos lavradores, para que lhe dessem dos frutos da vinha; mas os lavradores, espancando-o, mandaram-no vazio. E tornou ainda a mandar outro servo; mas eles, espancando também a este, e afrontando-o, mandaram-no vazio. E tornou ainda a mandar terceiro; mas eles, ferindo também a este, o expulsaram. E disse o senhor da vinha: Que farei? Mandarei o meu filho amado, talvez que, vendo-o, o respeitem. Mas, vendo-o os lavradores, arrazoaram entre si dizendo: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, para que a herança seja nossa. E, lançando-o fora da vinha, o mataram. Que lhes fará pois o senhor da vinha? Irá e destruirá estes lavradores, e dará a outros a vinha" (Lc. 20:9-16).
Nesta parábola, os servos enviados pelo senhor da vinha, representam os profetas do Antigo Testamento, assim como os apóstolos que continuaram suas tarefas. Realmente, a maioria dos profetas e apóstolos pereceram por morte imposta pelas mãos dos "Maus Lavradores." Sob o termo "frutos" subentende-se a fé a as obras piedosas, que Deus esperava do povo judeu. A parte profética da parábola — o castigo dado aos maus lavradores e a concessão da vinha a outros lavradores — foi concretizada 35 anos após a Ascensão de Cristo, quando, sob o domínio de Tito, toda a Palestina fora destruída, e os judeus tiveram que se dispersar pelo mundo. O Reino de Deus pelas obras dos apóstolos, passou a outros povos.
Parábola da Figueira Estéril.
Esta parábola descreve a compaixão do Filho de Deus ao povo judeu, sua vontade em salvar este povo das desgraças que os esperavam.
"Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando. E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a a este ano, até que eu a escave e a esterque; E, se der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar" (Lc 13: 6-9).
Deus Pai, da mesma maneira que o dono da figueira, durante três anos das tarefas terrenas de Seu Filho, esperava arrependimento e fé por parte do povo judeu. O Filho de Deus, como um bom e cuidadoso vinhateiro, pede ao Senhor que espere, enquanto ele tenta mais uma vez que a figueira frutifique — o povo judeu. Mas, seus esforços são em vão, portanto deu-se uma determinação ameaçadora: o repúdio de Deus àquelas pessoas que contrariaram-No insistentemente. A aproximação deste momento terrível fora mostrada por Cristo ao maldizer, alguns dias anteriormente à sua via crucis, a figueira estéril que crescia no caminho para Jerusalém (Vide Evangelho de Mateus 21: 19).
Parábola das Bodas.
Nesta parábola, Cristo trata da transferência do Reino de Deus do povo judeu a outros povos, na qual, os "convidados" representam o povo judeu, e os servos — os apóstolos e pregadores da fé cristã. Da mesma maneira que os "convidados" não quiseram entrar no Reino de Deus, a propagação da fé fora transferida "na encruzilhada" — a outros povos. Possivelmente, alguns destes povos não possuíam qualidades religiosas tão elevadas, contudo, manifestaram grande devoção nos serviços a Deus.
"O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho; E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; e estes não quiseram vir. Depois enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas. Porém eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico. E os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram. E o rei, tendo notícias disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas, e incendiou a sua cidade. Então diz aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. Ide pois às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. E os servos, saindo p elos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados. E o rei, entrando para ver os convidados, viu ali um homem que não estava trajado com vestido de núpcias. E disse-lhe: Amigo, como entraste aqui, não tendo vestido nupcial? E ele emudeceu.
Disse então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá pranto e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos" (Mt. 22:2-14).
No contexto de tudo o que foi dito, e das duas parábolas anteriores, esta parábola não exige explicações especiais. Como sabemos a partir da história, o Reino de Deus (Igreja) passou dos judeus aos povos pagãos, difundiu-se com êxito entre os povos do antigo império Romano, e iluminou-se na plêiade infinita dos fiéis a Deus.
O final da parábola dos convidados para as bodas, onde menciona-se o homem que não estava trajado com vestido de núpcias, parece um pouco obscuro. Para compreender esta passagem, deve-se conhecer os hábitos daquela época. Naqueles tempos, os reis, ao convidarem pessoas a uma festa, por exemplo, para uma festa de casamento de um filho do rei, ofertavam-lhes vestes próprias para que todos estivessem trajados de maneira limpa e bela durante o festejo. Mas, de acordo com a parábola, um dos convidados rejeitou o traje real, dando preferência às próprias vestes. Conforme se observa, ele fez isto por orgulho, considerando suas roupas melhores que as reais. Ao rejeitar as vestes reais, ele conturbou o bom andamento da festa e magoou o rei. Devido ao seu orgulho, foi enxotado da festa para as "trevas externas." Nas Escrituras Sagradas, as vestes simbolizavam o estado da consciência. Roupas claras, brancas, simbolizam a pureza e retidão da alma, que são ofertadas como dádivas de Deus, por Sua misericórdia. O homem que rejeitou as vestes reais representa os cristãos orgulhosos que rejeitam a bem-aventurança e a consagração de Deus, ofertadas nos mistérios bem-aventurados da Igreja. A estes "fiéis" jactanciosos podemos comparar os modernos sectários que rejeitam a confissão, a comunhão, e outros meios bem-aventurados oferecidos por Cristo para a salvação das pessoas. Considerando-se santos, os sectários depreciam a importância da quaresma cristã, do celibato voluntário, da vida monástica, etc. , apesar das Sagradas Escrituras ressaltarem estes feitos. Estes fiéis imaginários, como escrevia o Apóstolo Paulo, "tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela" (2 Tim. 3:5). Pois a força da piedade não está no exterior, e sim nos feitos pessoais.
Apesar das parábolas dos maus lavradores e dos convidados para as bodas referirem-se principalmente ao povo judeu, seu emprego não se limita ao mesmo. Outros povos mostraram-se responsáveis diante de Deus, aos quais Deus enviou sua misericórdia infinita. O antigo império Bizantino sofreu com os turcos devido aos seus pecados. Os fatos deste século falam-nos do julgamento de Deus, atingindo também o povo russo, que no último século que precedeu a revolução começou a ser arrebatado pelo materialismo, niilismo e por outros ensinamentos de cunho não cristão. "Com aquilo que se peca é que se é punido!" Como foi castigado o povo russo por seu menosprezo à fé e à salvação da alma — disso todos sabemos !
b. Sobre a (Grace of God) Bem-Aventurança de Deus.
"Como a respiração é indispensável ao corpo, e sem a respiração não se pode viver, assim sem a respiração do Espírito de Deus a alma não pode viver uma vida autêntica" — escrevia São João de Kronstadt (Minha Vida em Cristo).
Em suas últimas três parábolas, Cristo ensinou-nos sobre a bem-aventurança de Deus. A primeira, dos trabalhadores e das diversas horas de trabalho, trata do fato de Deus ofertar aos homens a bem-aventurança e o Reino dos Céus, não por algum tipo de merecimento, mas exclusivamente devido ao seu infinito amor. Na segunda parábola — das dez virgens - fala-se da necessidade de considerar a aquisição da bem-aventurança de Deus como o objetivo de sua vida. Finalmente, na terceira parábola, dos servos aguardando o senhor, Cristo ensina-nos a conservar a devoção e o ardor da alma com a espera de Seu retorno. Desta maneira, estas parábolas são complementares entre si.
A bem-aventurança de Deus vem a ser o poder, enviado por Deus para o nosso renascimento espiritual. Este poder purifica nossos pecados, trata nossas doenças espirituais, direciona nossos pensamentos e vontades a um bom objetivo, apazigua e ilumina os nossos sentimentos, dá-nos vitalidade, consolo e uma felicidade sobre-humana. A bem-aventurança de Deus é ofertada aos homens com o sofrimento da crucificação do Filho de Deus. Sem a bem-aventurança a pessoa não pode prosperar na bondade, e sua alma permanecerá inanimada. "O Espírito Santo Consolador, ao preencher todo o universo, penetra em todas as almas de fé, as dóceis, pacíficas e boas, sendo tudo para elas: luz, força, paz, felicidade, êxito nas tarefas, principalmente na vida piedosa — ou seja tudo o que há de bom" — escreve São João de Kronstadt.
Para os judeus da época de Cristo, houve uma abordagem utilitária à religião. Ao cumprir qualquer ritual, eles esperavam uma recompensa por parte de Deus em forma de bens materiais. O contato vivo com Deus e o renascimento espiritual não eram as bases de sua vida espiritual.
Parábola dos Trabalhadores e das Diversas Horas de Trabalho.
Nesta parábola, Cristo trata da incorreção desta abordagem utilitária à religião. O homem faz tão pouco para alcançar sua salvação, que nem se deve falar de recompensas por merecimento. Como exemplo, Cristo contou-nos dos trabalhadores que receberam uma recompensa sem ser por seu trabalho.
"Porque o reino dos céus é semelhante a um homem, pai de família, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, ajustando com os trabalhadores a um dinheiro por dia, mandou-os para a sua vinha. E, saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça. E disse-lhes: Ide vós também para a vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. Saindo outra vez, perto da hora sexta e nona, fez o mesmo. E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos e perguntou-lhes: Por que estais ociosos todo o dia? Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo. E, aproximando-se a noite, diz o senhor da vinha ao seu mordomo: Chama os trabalhadores, e paga-lhes o jornal, começando pelos derradeiros até os primeiros.
E, chegando os que tinham ido perto da hora undécima, receberam um dinheiro cada um. Vindo porém os primeiros, cuidaram que haviam de receber mais; mas do mesmo modo receberam um dinheiro cada um. E, recebendo-o, murmuravam contra o pai de família. Dizendo: Estes derradeiros trabalharam só uma hora, e tu os igualaste conosco, que suportamos a fadiga e a calma do dia. Mas ele, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço agravo: não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom? Assim os derradeiros serão primeiros, e os primeiros derradeiros; porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos" (Mt. 20:1-16).
Para os judeus, a primeira hora correspondia às nossas seis horas da manhã, e a undécima hora — correspondia a nossas cinco horas da tarde. Ao fazer o acerto de contas com os trabalhadores, o dono da vinha não agravou aqueles que trabalharam desde as primeiras horas da manhã, pagando-lhes e a todos os restantes, a mesma soma combinada. Aqueles que chegaram antes receberam de acordo com a soma combinada, já os que chegaram mais tarde receberam a mesma soma, pela bondade do dono. Com esta parábola, Cristo ensina-nos que tanto a bem-aventurança de Deus como a vida eterna são ofertadas ao homem, não como resultado de algum cálculo aritmético de suas obras ou pelo tempo de sua permanência numa igreja, e sim pela misericórdia de Deus. Os judeus imaginavam que, por serem os primeiros membros do Reino do Messias, deveriam receber uma recompensa maior em comparação aos cristãos de origem não judia, que se juntaram mais tarde a este Reino. Mas, a medida da justiça de Deus é bem diferente. Em sua balança, a sinceridade, a devoção, o amor puro e a temperança são mais valiosos do que a parte externa e formal das obras humanas. O bandido sensato, ao arrepender-se plena e sinceramente na cruz, e acreditar de todo o coração no Cristo banido e torturado, foi digno de receber o Reino de Deus em termos de igualdade com outros fiéis, que serviam a Deus desde a mais tenra infância. Deus tem misericórdia de todos por Seu Único Filho, e não por seus méritos. Nisto consiste a esperança para os pecadores, que com um suspiro arrependido, vindo das profundezas de sua alma sofrida, podem atrair a misericórdia de Deus e a salvação eterna. As boas ações do ser humano e o modo de vida cristão confirmam a autenticidade de suas convicções religiosas, fortalecendo nele as dádivas divinas recebidas, mas não são méritos diante de Deus, pela compreensão jurídica desta palavra.
A necessidade da bem-aventurança de Deus ao homem é descrita por Cristo na parábola a seguir.
Parábola das dez Virgens.
"Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas. As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas, à meia-noite ouviu-se um clamor; aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite,porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas ido compra-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. Vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir" (Mt. 25:1-13).
São Serafim explica de maneira clara e convincente a parábola das Dez Virgens em seu diálogo com Motovilov.
"Alguns dizem que a falta de azeite na lâmpadas das virgens loucas representa a insuficiência de boas obras em suas vidas. Este raciocínio não é totalmente correto. Qual seria sua insuficiência em boas obras quando elas, mesmo loucas, continuam sendo chamadas de virgens? Pois a virgindade é uma grande virtude, seria como uma condição angelical, podendo substituir por si mesma todas as outras virtudes. Considero que faltava-lhes justamente a bem-aventurança do Espírito Santo. Criando virtudes, estas virgens, por sua irracionalidade espiritual, supunham que a cristandade consistia unicamente em praticar virtudes. Praticando virtudes, realizaram as obras de Deus, mas até lá não se sabe se alcançaram a bem-aventurança do Espírito Santo... Esta aquisição do Espírito Santo é que vem a ser o azeite que faltava para as virgens loucas. Por isto que são chamadas de loucas, por esquecerem do fruto indispensável da virtude, da bem-aventurança do Espírito Santo, sem o qual ninguém pode obter a salvação, ou seja: "Toda alma se vivifica com o Espírito Santo, eleva-se com a pureza e alumia-se com o Mistério Sagrado da Trindade." O próprio Espírito Santo penetra em nossa alma, e esta inspiração, esta comunhão da Trindade com nossa alma somente nos é ofertada através do Espírito Santo: "Inspiro-o e serei seu Deus, e eles serão meu povo." Isto é o azeite das lâmpadas das virgens prudentes, com chama clara e contínua, e estas virgens puderam esperar o esposo, que chegara á meia-noite, e entrar com ele para as bodas. Já as virgens loucas, ao perceberem que suas lâmpadas se apagavam, apesar de terem ido comprar o azeite na feira, não puderam chegar a tempo, pois as portas já foram fechadas. A feira seria a nossa vida; as portas fechadas seriam a morte do homem; as virgens prudentes e as loucas — seriam as almas cristãs; o azeite — não seriam as obras, mas a bem-aventurança do Espírito Santo obtida através das mesmas, transformando a combustão lenta à uma grande combustão, a morte da alma em vida espiritual, as trevas em luz, o covil de nossa existência, onde as paixões estão amarradas, como gado e feras — no templo da Divindade, no palácio da glória eterna em Jesus Cristo."
Os ensinamentos de Cristo sobre o Reino de Deus no último grupo de parábolas são intimamente relacionados com a idéia de Seu segundo retorno. Cristo, ao falar de seu segundo retorno e do juízo final, convence-nos da necessidade de sempre estarmos em vigília, e de sempre tentarmos melhorar. Realmente, nada nos dá maior fervor do que o preparo diário de nossa prestação de contas diante de Deus. Na realidade, com a morte, o mundo deixa de existir para nós, aproximando-se o momento de nosso juízo. Para que esta hora não seja inesperada nem trágica, Cristo contou-nos a seguinte parábola.
Parábola dos Servos Aguardando o Senhor.
"Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa, e chegando-se os servirá. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos. Sabei, porém isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais" (Lc 12:35-40).
Da mesma maneira como na parábola anterior das dez virgens, sob o termo "candeias acesas" devemos compreender a luz espiritual, ou seja, o serviço devoto a Deus, quando em nossos corações está a luz da bem-aventurança de Deus, a qual, segundo São João Cassiano, "sempre direciona nossa vontade para o lado do bem, entretanto, exige de nós ou espera esforços correspondentes. Para não ofertar suas dádivas aos descuidados, ela procura casos com os quais desperta-nos do frio descuido, para que a oferta das dádivas não seja em vão, pois até para nossos pequenos esforços, demonstra infinita generosidade." Idéia semelhante é descrita por São Isaac Sirsky: "Na mesma medida com que o homem aproxima-se de Deus em suas intenções, Ele também aproxima-se do homem na concessão de suas dádivas."